Eu?

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Porto Alegre, Rio Grande do Sul., Brazil
o outro.

domingo, 2 de setembro de 2012

Do lobo vieste. Ao lobo retornará.



Lembro do dia em que fui cordeiro
Lépido no campo de centeio
Em dia de festa santa
Pastores cortavam minha garganta

Por vezes tentei ser coelho
Felpudo, fofo, faceiro
Má sorte a minha, perdi a pata
Um corte seco abaixo do joelho

Na nevasca de minha vida fui urso
Dormir encobria a verdade
Às vezes preciso, às vezes confuso
Fera bipolar no gelo da cidade

Nessa vida ainda fui cobra
Lisa, larápia, letal
Troco de pele com a aurora
Meu beijo tem gosto de metal

Preferi também ser aranha
Amei, gozei, matei meu companheiro
A sordidez do ato foi tamanha
Que morreu em mim o cordeiro

Agora uso a pele que ele me deu
desde os tempos da tenra infância
A carne macia do filho que foi teu
Hoje renega a tua herança

Deitei com porcos de podres úberes
Dividi baleias com negros abutres
Mas a lua cheia insiste em chamar
Então caro leitor, que pele eu deveria usar?