Eu?

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Porto Alegre, Rio Grande do Sul., Brazil
o outro.

domingo, 2 de setembro de 2012

Do lobo vieste. Ao lobo retornará.



Lembro do dia em que fui cordeiro
Lépido no campo de centeio
Em dia de festa santa
Pastores cortavam minha garganta

Por vezes tentei ser coelho
Felpudo, fofo, faceiro
Má sorte a minha, perdi a pata
Um corte seco abaixo do joelho

Na nevasca de minha vida fui urso
Dormir encobria a verdade
Às vezes preciso, às vezes confuso
Fera bipolar no gelo da cidade

Nessa vida ainda fui cobra
Lisa, larápia, letal
Troco de pele com a aurora
Meu beijo tem gosto de metal

Preferi também ser aranha
Amei, gozei, matei meu companheiro
A sordidez do ato foi tamanha
Que morreu em mim o cordeiro

Agora uso a pele que ele me deu
desde os tempos da tenra infância
A carne macia do filho que foi teu
Hoje renega a tua herança

Deitei com porcos de podres úberes
Dividi baleias com negros abutres
Mas a lua cheia insiste em chamar
Então caro leitor, que pele eu deveria usar?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

tumba anônima

Eu tô me esquecendo do teu cheiro, sorriso, gosto. É como se fosse um morto, do qual se perde a foto, e esquece o rosto. São como todos aqueles cadáveres queimados que não se pode identificar. Ou uma criança sequestrada que não se pede resgate pra pagar. Talvez pudesse comparar com alguma doença rara, que mesmo em tempo de ciência clara, a cura insiste ocultar. Não terá nome em tua lápide, mero bípede. E ninguém vai rezar pela tua alma, clemente. Será enterrado como um indigente, cova rasa, sem choro de parente. Tua caveira perderá olho, pele, dente. Teu corpo, antes quente, será mais frio que a geleira de Ross. Tua boca não emitirá voz. Só os vermes partilharão tua companhia com esfuziante alegria. Tua tumba anônima, será violada noite e dia, e teus ossos, usados em magia.
Eu não tenho pena de ti. Porque o meu coração parou de bater e há muito tempo morri. Também não pense que é eterno. Quem sabe não nos encontramos no inferno? Ao nono círculo, o dos traidores e, mergulhados no Cócito, abraçados como ex-amantes, compartilharemos extremos horrores.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Meu amado cavaleiro

Ficar abraçado contigo é o meu abrigo. É tudo que eu preciso. E não é só porque tu tens o mais belo sorriso, o humor de Dionísio e a força do leão. É pela retidão em teu peito, tua coragem e teus feitos; que me estremecem o coração. Dizem aos sete ventos: tua beleza inspira poetas, teu olhar provoca paixão. Deixa eu ser teu escudeiro, meu amado cavaleiro. Te amar a vida inteira é a minha vocação.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um verão sem sol

Do sangue que jorra do meu coração,
escrevi este poema.

As palavras soam cacofônicas,
afônicas,
não rima um fonema.

Eu nunca rezei ao Senhor,
essa é a mais pura verdade.
Mas agora, de mãos juntas,
imploro piedade.

Cura-me de tamanha atrocidade.

Devolve meu amor: lindo, largo, lânguido.

Faz voltar a ser cândido
e me proteja da dor.

Põe teu cupido certeiro,
aquele que foi melhor arqueiro.

E juro eu, Senhor:
terás meu eterno louvor.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

domingo lindo

Eu não tenho namorada fofa ou namorado lindo pra abraçar no domingo. Minhas lembranças da infância são memórias de infâmia. Na liturgia, sentia as mãos frias na minha bacia. Ajoelhado uma voz dizia: não conta pra ninguém, assim quer aquele que nasceu em Jerusalém. Hoje fiquei até às três da manhã esperando o teu telefonema. Noite enferma, deitado com o abandono. Odeio ter que te esperar. Mas dormir como? Se a tua voz é minha canção de ninar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Disco ao contrário

Escárnio. Toca o disco do Roberto ao contrário. Ouve a melodia fria que levanta os mortos e mata a paixão. Acorde o peito de quem vive a sete palmos do chão. Livra o pecado da masmorra, mas corra. A corda que sufoca o pescoço logo quebrará teu osso. Ninguém suporta tamanha pressão. Em vão. Anda pelo cemitério nas noites de lua cheia. Vaguei, esgueira, semeia a morte em tua teia. Mas me deixa morrer dentro do teu coração.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Assim cantam os bardos

Desce ele do cavalo com sua bastarda em mãos
Treme toda a tirania, foge todo o vilão
Seu braço forte afugenta o inimigo
Seu coração bravo inspira abrigo

Não tenhas medo, ergue tua cabeça
Morre demônio vindo da profundeza
O paladino não descansa
Até que o mal pereça

Homem de alma pura, nada temas
Porque enquanto o paladino cavalgar
Te defenderá das malezas
Coração tocado pelos anjos
Assim rezam as lendas